sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Texto que escrevi em 13.11.2000

Em um programa exibido pelo Jornal da Globo, foi mostrada uma reportagem sobre um restaurante mantido pelo Comitê da Cidadania de Combate à Fome, fundada por Betinho, sociólogo, a situação de pessoas que almoçavam neste restaurante, que cobrava o valor simbólico de um real.
Havia um homem, na fila de espera, que posuía apenas setenta centavos. Na miséria, as pessoas se solidarizaram e um senhor lhe deu vinte e cinco centavos para somar aos parcos recursos.
Depois, foi mostrado o momento do almoço e as pessoas (catadores de sucata, moradores de rua, vendedores ambulantes e outros) e o homem que precisava somar para poder comer.
Ele se emocionou e chorou diante da comida que lhe garantiria a sua sobrevivência física.
Suas lágrimas deveriam ser um antídoto para os corações endurecidos dos poderosos.
Entre os muito pobres materialmente, existiu, a sabedoria da solidadriedade, que deveria ser aprendida pelos ignorantes egoístas e muito ricos.
Assim, haveria a verdadeira harmonia necessária para a sobrevivência da vida neste frágil planeta.

Brasil

Um país mestiço, que, aos olhos do mundo, foi "descoberto" em 1500. Mas já existia antes disto.
Havia, aqui, um povo que sabia respeitar a natureza, era a própria natureza.
Havia harmonia e luta pela vida de uma forma natural.
Havia mitos, religião, igualdade e respeito mútuo.
Chegaram os portugueses, povos "civilizatórios".
O que aconteceu?
É o que vemos hoje.
Conseguiram transformar o paraíso num caos, como no começo do universo. Ninguém respeita mais ninguém, que não tenha dinheiro ou poder. Desde criança, já se aprende a corrupção: uma criança diz que gosta muito de você e, em seguida, pede-lhe um presente em troca deste sentimento.
Para tudo, tem um jeitinho brasileiro.
A amizade transforma-se em ódio, ou vice-versa, dependendo do interesse.
A transformação seria usarmos o exemplo de nossos ancestrais, buscar respostas nas estrelas, nas florestas, na sabedoria dos anciãos, sentados à beira de um rio, lago ou mar, ouvir o barulho das ondas, respeitar a inocência dos animais e, sobretudo, aprender a ser humano, no sentido mais autêntico desta palavra.
Devemos respeitar um pouco mais o abstrato, em detrimento do concreto e aí, sim, dizer: independente de monumentos, poder e dinheiro, busquemos nossa felicidade, no sentimento de união, que é o maior poder.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Vida, um estilo

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!

Clarice Lispector

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Liberdade

1- A liberdade não tem nenhum valor se não inclui a liberdade de errar.
(Mahatma Gandhi)

2- A liberdade, quando começa a criar raízes,
é uma planta de crecimento rápido.
(George Washington)

3- Liberdade significa responsabilidade.
É por isso que tanta gente tem medo dela.
(Bernard Shaw)

4- Ainda que tivesse que ficar só, não trocaria
a minha liberdade de pensar por um trono.
(Lord Byron)

5- Liberdade é uma possibilidade de ser melhor,
enquanto escravidão é a certeza de ser pior.
(Albert Camus)

6- Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta
não há ninguém que explique e ninguém que entenda.
(Cecília Meirelles)

7- ... para o ser humano, o clima certo é um só: Liberdade.
Só neste clima, se sente feliz e prospera harmoniosamente.
Quando muda o clima e a liberdade desaparece,
vem a tristeza, a aflição, o desespero e a decadência.
(Monteiro Lobato)

8- Nada no mundo pode impedir o ser humano de se sentir nascido
para a liberdade. Jamais, aconteça o que acontecer,
ele pode aceitar a escravidão, pois ele pensa.
(Simone Weil)

9- A liberdade é defendida com discursos e atacada com metralhadoras.
(Carlos Drummond de Andrade)

LIBERDADE

Poema do poeta francês Paul Eluard

Nos meus cadernos de escola
Nas carteiras e nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome.

Em toda página lida
Em toda página em branco
Pedra papel sangue ou cinza
Escrevo teu nome

Em toda imagem dourada
E nas armas dos guerreiros
Ou nas coroas dos reis
Escrevo teu nome.

Na floresta e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
Nos ecos de minha infância
Escrevo teu nome.

Nas maravilhas da noite
No pão branco da manhã
Nas estações em noivado
Escrevo teu nome.

Em todo farrapo azul
No tanque de água mofado
No lago da lua viva
Escrevo teu nome.

Nos campos e no horizonte
Nas asas dos passarinhos
E nos moinhos de sombra
Escrevo teu nome

Em todo sopro da aurora
No mar e em cada navio
Na montanha adormecida
Escrevo teu nome.

Na branca espuma das nuvens
Nos suores da tormenta
Na chuva densa e enfadonha
Escrevo teu nome.

Nas formas resplandecentes
Nos sinos de várias cores
Em toda verdade física
Escrevo teu nome.

Nos caminhos acordados
E nas estradas vistosas
Ou nas praças transbordantes
Escrevo teu nome.

Na fruta cortada ao meio
Do meu espelho e meu quarto
No leito concha vazia
Escrevo teu nome.

No meu cão guloso e terno
De orelhas que estão em guarda
Nas suas patas sem jeito
Escrevo teu nome.

Na minha porta de entrada
Nos objetos familiares
Nas ondas de fogo lento
Escrevo teu nome.

Em toda carne cedida
Na fronte dos meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome.

Na vidraça das surpresas
E nos lábios sempre atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome.

Nas ausências sem desejo
Na solidão toda nua
Nesta marcha para a morte
Escrevo teu nome.

Na saúde que retorna
No perigo que passou
Nas esperanças sem eco
Escrevo teu nome.

E ao poder de uma palavra
Reconheço minha vida
Nasci para conhecer-te
E chamar-te

LIBERDADE!...

*giesta: arbusto de poucas folhas,
de flores amarelas e perfumadas

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Meu bem, meu mal

Escreveu E.M.Cioran, em seu cáustico e fundamental Breviário da decomposição: "A fonte de nossos atos reside em uma propensão inconsciente a nos considerar o centro, a razão e resultado do tempo".Excluindo a fonte considerada por Cioran como sendo o inconsciente - já que não creio na teoria formulada por Sigmund Freud e levada como um ato de fé por seus seguidores - acredito que é por uma propensão animal, muito mais nitzcheana do que psicanalítica (e sendo, assim, uma propensão a perpetuar a espécie), que nos consideramos o centro, a razão e o resultado do tempo.
Se considerarmos esta como sendo uma premissa verdadeira - pois afinal tudo é hipotético neste mundo de premissas - todo o discurso, seja ele vindo da educação maternal, passando pela escola, as promessas e atos políticos e as manifestações religiosas públicas, é invenção humana. E este discurso, seja ele qual for, tem como princípio manter um grupo coeso para vencer as adversidades.
O poder, que não é apenas o político, como ensina o filósofo Michel Foucault nos artigos, debates e entrevistas do livro Microfísica do poder, mas também o poder prosaico do patrão sobre o empregado, do pai sobre o filho, do homem sobre a mulher, do religioso sobre os seus fieis, do médico em relação ao paciente e até daqueles que dão esmolas, é apenas o reflexo desta crença não mais antropocêntrica, já que o humano quer sobrepor o humano, mas egocêntrica. No máximo, para ser condescendente com a espécie humana (depois de tantas guerras, massacres, genocídios e escravidão), somos tribocêntricos.
E se levarmos adiante a ideia de Nietzsche, quando, apaixonadamente, nos deu uma genealogia da moral, de que o conhecimento é uma invenção (e o conhecimento é sempre considerado bom), o que considerarmos bom ou mal, também é invenção.
Não faltam pistas, artigos, teorias que nos levam à gênese da divisão da moral em boa ou má.
A história é muito maior do que algumas crianças que acabam de nascer neste exato momento em que se escreve a palavra homem. E esta mesma história, sujeita à moral inventada pela ascendência branca ocidental, branca e colonizadora, diz a todo momento que o discurso do bom é tão ditador, cruel e opressor, que todo o culto à maldade.
Mais do que isto. O que estas crianças, que agora já têm alguns segundos de vida, devem aprender conosco, é não se deixar levar pelo maniqueísmo simplório de que o ser humano é bom ou mal, ou de que determinada atitude é boa ou má, ou branca ou negra, ou alta ou baixa...
Este reducionismo, que passa a ser uma defesa, como o gato que eriça o pêlo quando ameaçado, é o que determinou o tipo de ser humano que somos hoje: Opressores, gananciosos, bárbaros, prontos a atirar em outro ser humano por causa de uma buzina no trãnsito.
Por mais paradoxal que pareça, porque muitos se perguntarão: afinal, não é exatamente o ser humano mau que pratica atos violentos?
É o discurso da superiodade moral um dos responsáveis pela degradação do ser humano e pela generalização da violência, porque quando se diz: eu sou bom e ele é mau, estou discursando baseado em uma hierarquia moral inventada. Como a história, infelizmente, é contada pelos vencedores, quem há de negar que o discurso da bondade não é exatamente o discurso do Mal?
Ñão é uma afirmação, é uma tentativa de fazer perguntas que quase ninguém faz, pois é hábito vivermos pelos outros, pensarmos pelos outros, nos espelharmos no discurso moral que não vem dos céus (isto a história está farta de nos mostrar). A própria ideia de céu como paraíso é mitológica, não tem fundamento ou provas, a não ser o da crença.
E ela é tão diversa que se subdivide em várias crenças. E cada uma é fundamentada (surgindo o fundamentalismo) em verdades inventadas. Ao contrário, aqueles que não creem, têm apenas uma crença: que é justamente não crer. O que não deixa de ser também uma invenção.
Portanto, crer ou não crer, ser bom ou ser mau, ser branco ou negro, alto ou baixo, pobre ou rico, são invenções morais (e crer nesta dicotomia, é espalhar hierarquias, que são as responsáveis por parte da violência), muito menos significantes do que o simples fato de estar no mundo, ver o sol, abraçar outro humano, chorar, rir, olhar o infinito e ter a sensação da vida penetrando na pele, os poros.
É viver muito além da ideia de Bem ou Mal.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Em defesa da razão

O autor do texto a seguir, Isaías Raw - médico, bioquímico, pesquisador, argumenta que hoje o misticismo predomina sobre a razão.

" Durante décadas, lutei desesperadamente para trazer racionalidade às gerações que me sucederiam, acreditando na ciência e em suas conquistas. A caminhada do homem na lua, as fotos dos planetas distantes, os computadores, a televisão direta dos satélites, as vacinas que eliminaram da face da Terra a varíola, a poliomielite, os remédios desenhados em computadores que curam o câncer, quando detectado a tempo, os transplantes, a biotecnologia, gerando plantas mais resistentes e produtivas, que liquidaram com a profecia de Malthus, afastando o perigo da fome universal. E, apesar disso, o que colhemos? Uma geração de crédulos, sem capacidade crítica.
Até mesmo pessoas que seguiram carreira técnico e científica, não entendem a racionalidade da ciência. Consomem toneladas de pseudomedicamentos sem nenhum efeito positivo para o organismo. Engolem comprimidos de vitaminas, que serão eliminadas na urina. Consomem extratos de plantas com substâncias tóxicas e abandonam o tratamento médico. Gastam fortunas com diferentes marcas de xampu, que contêm os mesmos detergentes, mas anunciam alimentos para os cabelos, quando, na realidade, estes recebem nutrientes diretamente do sangue que irriga suas raízes. Há os que untam o rosto com colágeno - geleia de mocotó - e ovos e acham que estão rejuvenescendo.
Fico pasmado ao ver que as pessoas leem horóscopos, sem jamais comparar as previsões da véspera, com o que realmente aconteceu. Desconfiam dos cientistas, mas acreditam nas cartomantes, que preveem o óbvio.
Formamos uma geração de pseudo-educados, que querem ser enganados nas farmácias, pelos curandeiros, que enfiam agulhas em seus pés e manipulam sua coluna. Uma geração que se deixa levar por benzedeiras e charlatães com suas poções, por anúncios desonestos na televisão e por pregadores, a quem entregam parte do salário.
Saem as descobertas e as experiências científicas e entram os duendes, anjos e bruxos."

texto na íntegra

Os mineiros

Escuridão.
Privação.
Claustrofobia.
Pessoas com a mesma profissão, mas com histórias de vida tão diferentes, confinados e convivendo praticamente dentro de um túmulo.
Reality show da vida real.
Acompanhados pelo mundo todo.
A tecnologia entra em ação.
E deus estava onde?
Todos os créditos à grande capacidade dos engenheiros que, com toda inteligência e estudos, realizaram uma missão realmente quase impossível.
Agradecimentos?
Espero que sejam a estas pessoas magníficas, que não mediram esforços e tentativas para resgatar das profundezas àqueles que estavam condenados à morte, se não fosse a intervenção humana.
A ciência, infelizmente, durante a "sabedoria da Idade Média", foi impedida de ter avançado mais.
A Idade das trevas, da ignorância, que a igreja impôs, jogou no esquecimento muitos avanços até então conhecidos.
Onde estavam os religiosos quando estes homems precisavam de ajuda material para se manterem vivos e serem resgatados?
Em seus belos templos, orando?
Ironizando, isto ajuda muito em uma situação desta natureza.
A inteligência, a ciência que devem ser venerados.
"O ventre contraído pelo temor da privação, pelo medo da fome e do amanhã, assim seguia o ser humano do ano 1000, mal alimentado, penando, para que, com suas precárias ferramentas, tirasse o pão da terra. Os males atingiam a humanidade e as calamidades excepcionais eram, no espírito cristão, provações enviadas por deus".
Tudo bem , então quem é deus?
Onde ele está?
Presente nas tragédias?

Email que recebi e resolvi compartilhar

Marina,... você se pintou?

Maurício Abdalla

“Marina, morena Marina, você se pintou” – diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e o grito dos pobres”, como diz Leonardo.

Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias?

Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as “famiglias” que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.

Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas “os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz”. Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.

Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.

Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.

“Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você “tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele”.

Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu”.

Maurício Abdalla é Professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), dentre outros.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

INSTANTES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida
na próxima cometeria mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo do que eu tenho sido.
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico.
Correria mais riscos.
Viajaria mais.
Contemplaria mais entardeceres.
Subiria mais montanhas.
Nadaria em mais rios.
Iria a mais lugares aonde nunca fui.
Tomaria mais sorvete,
e comeria menos lentilha.
Teria mais problemas reais
e menos problemas imaginários.
Eu fui dessas pessoas que viveram sensata
e produtivamente cada minuto de minha vida.
Claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, procuraria
ter somente bons momentos.
Porque, se não o sabem, disso é feita a vida,
só de momentos.
Não percam o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma
sem um termômetro,
uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva
e um para-quedas.
Se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço
no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas de carrossel,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças.
Se eu tivesse outra vez minha vida pela frente.
Mas, como sabem, tenho 85 anos
e sei que estou morrendo...
Jorge Luiz Borges, poeta argentino
(1899-1987)

Lucas, a zebrinha só

Eu não esperava mais encontrar uma boa notícia nos jornais naquele dia.
As folhas, recheadas de denúncias de corrupção, escândalos, negociatas, mortes, violência.
Virando as páginas, encontrei uma foto que mostrava uma zebrinha, ao lado de outro animal, de pelagem um tanto estranha.
A zebrinha chamava-se Lucas, e estava em um zoológico, trazida para ser atração, tirada de sua família. Virou atração, mesmo. Mas, sozinha, sem nenhum ser da mesma espécie, entrou em depressão, porque os animais também sentem a dor da solidão.
A solução encontrada pelo veterinário foi pegar uma jumenta branca e pintá-la com listras negras, com carvão, e colocá-la junto de Lucas, que adorou a ideia de ter a companhia de alguém da mesma espécie.
História tocante esta.
Que todas as pessoas também pudessem ter sua solidão amenizada por uma presença, por um amigo.
Quantos idosos contam os dias pela presença de seus filhos, que nunca vem?
Possuindo apenas objetos para distrair a imensa solidão a que foram condenados!
Existe uma geração de egoísmo imperando sobre todos.
Os mais jovens, se escondem dela, achando que tem muitos amigos.
Quando, na verdade, na primeira adversidade, se veem sós.
Mal do século XXI, a depressão, a solidão em meio à multidão.

Simba e Lady video

http://www.youtube.com/watch?v=yMFeU8z0mbw

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Manifesto de proteção à natureza

Começo este manifesto lembrando que, no século XXI, o planeta Terra continua sendo nossa morada. A única que temos. Um planeta tão frágil, em um universo enorme e agitado. Mas que abriga, até onde conheço, uma diversidade de vida surpreendente. Existe um equilíbrio perfeito entre as formas de vida. Mas é um equilíbrio tão delicado que, rompendo-se, desencadeará a pior catástrofe desde o fim dos dinossauros. O ser humano é um dos fios desta delicada trama. E com a responsabilidade de manter os outros fios intactos, se quiser continuar habitando este lar.
Portanto, aqui estão conselhos importantes e simples para continuar a vida em harmonia:

1- Amar.Talvez não importe muito o que amamos neste mundo. Mas devemos amar alguma coisa. Devemos deixar nossa porção humana falar mais alto e amar sem limites. Porque, no final de tudo, somos apenas humanos, nada mais.

2- Apreciar a natureza. A vida só vale a pena quando sabemos apreciar o
belo, o sol, a natureza, a própria vida.

3- Preservar e reciclar. Plantar uma floresta, um jardim, uma horta, um pequeno vaso de plantas. Não importa. O que importa é que o verde esteja na moda, na sua forma mais viva.

4- Proteger os animais, nossos irmãos.
Como escreveu Leonardo da Vinci, com estas belas palavras:
"Chegará o dia em que o homem conhecerá o íntimo de um animal. E, neste dia, todo crime cometido contra um animal, será um crime contra a humanidade". Para bom entendedor...

5- Ser solidário. A solidariedade não é dar esmolas, mas condições para que todos exerçam sua cidadania, que tenham estudo e emprego dignos.

6- Diga SIM à Paz. A guerra é a maior prova de que não houve evolução.

7- Denuncie toda agressão à natureza. Afinal, ninguém tem o direito de destruir nossos rios, florestas, animais e a nós mesmos. Procure os órgãos responsáveis pelo meio ambiente e faça a denúncia. Eles são responsáveis para punir os agressores. E, nós, de preservar e fiscalizar.

8- Ensine às crianças, os herdeiros desta morada. Criando seres conscientes e responsáveis pela vida, teremos um mundo melhor.

9- Seja tolerante, diga NÃO ao preconceito. Todos devem ser respeitados. Não importam cores, credos ou qualquer tipo de opção de vida, isto é pessoal e intransferível. Biologicamente somos todos iguais.
O que nos diferencia é a nossa consciência.

10- E, por fim, aceite-se como ser humano. Afinal, o que deve brilhar, ser bonito é nossa postura perante à vida, o SER e não o TER. O que importa que roupa estou vestindo, os bens materiais que tenho, no universo borbulhante em que vivemos?

Finalizo, lembrando que estas dicas são apenas sugestões. Existem milhares de outras. Procure as suas e faça bem feito. Faça a sua parte.
Porque , senão, será o fim da vida e o início da sobrevivência.

(Escrevi este manifesto em 05 de junho de 2005, para a apresentação de uma gincana na EMB João Paulo I - CAIC)

TEMPOS PÓS MODERNOS

Você sabe que está no século XXI quando:
1. Você, acidentalmente, tecla sua senha no microondas.
2. Há anos não joga paciência com cartas de papel.
3. Tem uma lista de 15 números de telefone para falar com sua família de 3 pessoas.
4. Envia email para a pessoa que trabalha na mesa ao lado da sua.
5. A razão porque você não fala há tempos com muitos de sua família é desconhecer seus endereços eletrônicos.
6. Você usa o celular na garagem de casa para pedir a alguém que o ajude a desembarcar as compras.
7. Todo comercial de TV tem um site indicado na parte inferior da tela.
8. Esquecendo seu celular em casa, coisa que você não tinha há 20 anos, você fica apavorado e volta para buscá-lo.
10. Você levanta pela manhã e liga o computador antes de tomar o café.
11. Vira a cabeça de lado, para sorrir :)
12. Está lendo a lista, concordando e sorrindo.
13. Você já sabe exatamente para quem enviará este texto.
14. Está tão interessado na leitura que nem reparou que a lista não tem o número 9.
15. Você retornou à lista para verificar se é verdade que falta o número 9.

Humor: A tarefada

- Acampar? De jeito nenhum! Você só tem 7 anos.
- Tenho 15, mãe!
- Mas já? Não é possível? Tem certeza?
- Absoluta. É que nos meus últimos aniversários você estava trabalhando, esqueceu de ir.
- Esqueci, não. É que caíram em dias de semana. Se tivessem feito como sugeri...
- Você sugeriu que mudassem o dia de meu aniversário para o primeiro domingo de maio.
- Exato. Domingo eu nunca trabalho.
- Papai me contou que vocês se casaram num domingo e você trabalhou durante a cerimônia.
- Eu só assinei uns documentos enquanto o padre falava. Ele nem percebeu...
- E em vez do vovô, você entrou de braços dados com o contador.
- Claro! O balanço da firma era para o dia seguinte!
- E a lua de mel...
- Tá. Eu não fui. Mas mandei o boy do escritório me representando. Seu pai no começo resistiu, mas acabou aceitando.
- E quando eu nasci, qual é a desculpa?
- Desculpa por quê? Você nasceu como qualquer criança..
- Nasci numa mesa de reuniões!
- Era numa reunião da diretoria! Não podia sair assim, só porque a bolsa estourou. e você deveria se orgulhar! Foi o presidente de uma grande multinacional que fez o parto.
- Já sei. E a secretária cortou meu cordão umbilical com um clipe. não brinca. Fiquei traumatizado.
- Eu fiquei. Voc~e nasceu em cima de uma papelada importante. Quase perdi o emprego...
- E quando você foi me pegar na escola a primeira vez, a vergonha que eu passei...
- Eu só fiquei com medo de não te reconhecer... Não te via fazia um tempinho...
- Tive que segurar um cartaz, que nem parente desconhecido em aeroporto, escrito: "Eu sou o Thiago".
- Thiago? Foi este o nome que eu te dei?
- Que a moça do cartório me deu! Quando completei 8 anos e consegui ir sozinho a um cartório. Fiquei oito anos sem nome! Oito anos sendo chamado de pssit!
- Pssit? Até que não é feio!
- Tudo por causa da porcaria de teu trabalho! Faz uma coisa: pra provar que você quer mudar, vem acampar comigo!
- Por que nós não acampamos lá no meu escritório? Do lado do fax tem um espação. E umas samambaias artificiais. Posso contratar alguém do escritório para ficar coaxando para a gente.
- Pára!!!!!!! Larga tudo e vem comigo.
- Bom, se você está insistindo tanto, eu... Então tá. Eu... Tudo bem, eu vou.
- Jura? Ótimo, você vai adorar!
- Ah, difícil pensar em programa melhor. aquelas árvores, aqueles macacos guinchando, aquelas aranhas bacanas...
- Então, está tudo certo!
- Só preciso saber de um detalhe. A respeito do mato, uma besteira.
- O quê? Se no mato tem mosquito, tem cobra?
- Não, se no mato tem tomada.

O tempo

Acordei hoje com os olhos voltados nas fronteiras do tempo.
Borboletas amarelas esvoaçavam em torno de uma árvore. Parecia que tudo estava em sintonia.
A nostalgia me invade e isto significa que não há sintoma.
Mesmo na calmaria, existe uma inquietação. O vento balança a árvore de flores amarelas e borboletas amarelas.
Me perguntei: temos vivido momentos felizes e singelos, como ter sentado, numa infãncia remota, em uma mesa com muita comida gostosa, com familiares falando histórias de tempos idos e que marcaram a ferro e fogo minhas lembranças atuais?
Elas acabaram?
Por que a sensação de felicidade só aprece depois de ter passado?
Hoje estes tempos felizes.
Eu era feliz ou não, hoje não tem importância, a felicidade prevaleceu sobre as coisas que incomodavam.
E esta melancolia que sinto hoje, que parece tão enorme, no futuro me lembrarei dela?
Desperdiçamos alegrias por causa de tristezas pequenas e mesquinhas, esquecendo o prazer maior de viver.
Esquecer as mazelas da vida é viver cada minuto porque eles ficarão na memória.
Até nossas maiores decepções parecerão poéticas, além do momento, além do momento e deixarão saudades.
"A vida é um caminho que se faz ao andar."
Acrescento: não há retorno para este caminho, só experiências acumuladas.